Parto relâmpago!

00:51h toca meu celular: "Tia, começou. Estou com contrações." Começou
quando? "Há 10 minutos, o que que eu faço"

Veterana obstetra, conclui que a parturiente estava, claro, exagerando.
Não há o que fazer, é tocar pra frente. Há 10 minutos só, mal dá pra saber
que começou.
"É, mas eu já tive 4 contrações"

O telefone foi passado pro Bruno, que disse "Você vem, né?"

Achando que a parturiente estava beirando a histeria, decidi ir e
acalmá-la. Táxi de madrugada em São Paulo, cheguei lá e Carol estava debaixo do
chuveiro. Contei: contração a cada 2 minutos.

Massagem nas costas, esperar a avó paterna para ficar com Joaquim,
massagem nas costas, voltar pro chuveiro, consolar, massagem nas costas, ouvir
o telefonema para a obstetra, que sendo veterana também não acreditou no relato
da parturiente.
A parturiente repetia: "Não vou agüentar, quero anestesia"

A avó chegou. Parturiente no carro, pai ao volante, tia do lado.
Contrações a cada 2 minutos.

Desde em casa, a parturiente requebrava. A contração vinha e os quadris
circulavam, balançavam rodavam, rebolavam; as pernas dobravam, erguiam-se.
A Carol soube instintivamente o que fazer, obedeceu ao comando do corpo,
embarcou na viagem de parir.
No carro, o requebrar nas contrações se manteve. Apareceu um dado novo:
gritos. Não gritos altos, dissonantes e horrendos, como nos filmes, não! Aquele
tipo de grito que serve mesmo é pra relaxar a musculatura de períneo. E eu tive,
num momento, a impressão de que ela interrompia imperceptivelmente a respiração
e. discretamente, empurrava o bebê. Disse baixinho a ela que se quisesse
empurrar empurrasse.

Muitas curvas depois, chegamos ao hospital. A parturiente sai do
carro, dá uns passos rápidos para o elevador, pára e agacha-se. Os seguranças
logo trazem uma cadeira de rodas, prontamente recusada pela parturiente ainda
agachada no saguão.
Intervalo entre contrações, passos rápidos até o elevador. Subir. Na
recepção do quinto andar, chamar alguém. Demora. Parturiente agacha-se e
claramente empurra o bebê. A enfermeira chega na horinha, vê aquilo e vamos
rápido. A parturiente não consegue ir. Eu digo baixinho no ouvido: Dá uns
passinhos porque seu bebê está nascendo e vai acabar saindo aqui no corredor.

A parturiente dá um estirão, as enfermeiras discutem para onde levar, eu
falo em pré-parto, elas decidem. Sala trancada. Aproveito para tirar a calcinha
da parturiente. Entramos, aproveito para tirar o vestido da parturiente.
Perguntam pelo obstetra, peço pelo plantonista. Enfermeira examina e... leva
correndo para a sala de parto.
Carol por uma porta, para dentro do centro obstétrico, eu e Bruno por
outra porta, para trocarmos nossas roupas por vestimenta esteril.
Pois quando chegamos à sala de parto, lá estava Vicente sobre o coração da
mãe. E Carolina absolutamente linda. Ela sabia de sua grande vitória: às 02:23h,
ela parira sem anestesia seu rebento de 3 955 quilos e 51 centímetros.
Por Stella Marina